domingo, 22 de abril de 2012

Assunto salvaguardas novamente em debate, quer dizer, debate não, embate.







Meninas e meninos,

Aos defensores de cada um dos lados da moeda, contenham-se, pois só estão conseguindo com isso angariar antipatias de quem mais importa, o consumidor.
Recebi da Texto Sul Assessoria, um artigo de opinião, assinado pelo amigo Julio Kunz, da Dunamis Vinhos e Vinhedos,  cujos vinhos, modestamente, eu ajudei a mostrar e divulgar em São Paulo, como tenho feito com todas as boas vinícolas, cujos seus produtos sejam bons, sejam Brasileiras ou não.
Sem criar polêmicas desnecessárias, que creio esteja um pouco confuso com algumas observações, como a comparação com o futebol, já que nosso país é exportador e não importador de jogadores.
Também comparar a produção de vinhos do Brasil e citar a França que protegeu seus produtos após a filoxera, a qual dizimou vinhedos, e por isso mesmo a produção, esquecendo de dizer que nossa produção, ao menos é o que dizem produtores com Miolo, Perini, Garibaldi, cresce anualmente e tem ótimas perspectivas de vendas, isto sem contabilizar os espumantes que dão show.
Não quero aqui rebater este ou aquele artigo, só quero novamente enfatizar que trocar farpas, e não entendam esta postagem como mais uma, não está ajudando em nada.
Porque não se pensa em uma grande discussão envolvendo de fato todas as vinícolas, pois muitas delas, poucas é verdade, por escrito, têm se manifestado contra as salvaguardas, assim como as próprias vinícolas que assinaram a petição, também não o fizeram a favor, com exceção da Salton, que recuou e fez circular nota dizendo agora ser contra as salvaguardas.
Porque os presidentes da Uvibra, Sindivinho, Ibravin não se manifestaram, em que pese terem assinado nota conjunta semanas atrás, deixando o assunto nas mãos da assessoria de imprensa com o Orestes, em divulgar o único que sempre teve a coragem de aparecer, nisso, temos todos que concordar, e eu o cumprimento por isso, tanto em jornais, como em revistas, bem como em programas de TV, o  Sr Paviani?
Senhores a favor das salvaguardas, não pensem que eu, que sou contra, não saiba ouvir e discutir teses, mesmo sabendo da ironia fina, muitas vezes expressa nas redes sociais, que diz nada adiantar discutir, pois as salvaguardas já são favas contadas, principalmente pelo poder político de quem as pediu, mas sei de muitos, que com estas farpas trocadas, estão cada vez mais empenhados em boicotar os vinhos Brasileiros.
Repito: sou contra as salvaguardas, mas não a favor do boicote, tenho, como muitos também, lutado pelo consenso de medidas que creio mais admiráveis e de sucesso, como a desoneração do setor, inclusão das pequenas empresas no simples, e pela verificação constantes dos tributos estaduais diversos e perversos, e a medida inteligente de classificar os vinhos como alimento nas faixas tarifárias.
Abaixo segue na íntegra o que recebi para análise e discernimento dos leitores:

“Artigo de Opinião
Pelo fim do complexo de “vira-lata”

No futebol brasileiro – paixão nacional – há uma cota para jogadores estrangeiros. Dos 11 em campo, apenas três (27%) podem ser “importados”. E ninguém boicota os clubes. Todos continuam torcendo, comprando ingressos, camisetas e demais produtos dos times brasileiros. Isso faz com que jovens talentos como Neymar e Ganso, só pra citar dois nomes entre dezenas, possam crescer, aparecer e brilhar. Ninguém questiona as cotas no futebol, um esporte para o qual temos vocação natural e somos referência mundial, portanto, em tese, nem precisaríamos de restrições quantitativas para conter o avanço dos estrangeiros.

Ah se o mercado de vinhos no Brasil fosse como o futebol. Hoje, quase 90% dos vinhos finos vendidos no país são estrangeiros. Mesmo investindo muito nos últimos anos e realizando uma verdadeira transformação no setor vitivinícola, conseguimos, a duras penas, ter apenas 10% de presença nas taças dos brasileiros.

A Dunamis Vinhos e Vinhedos é uma jovem vinícola. Tem menos de dois anos de atividade comercial. Aliás, nem vinícola temos ainda. Priorizamos a construção da marca e a conquista de mercado antes de erguer um prédio físico. Há muitas boas vinícolas no Brasil. Optamos por aproveitar a estrutura de algumas delas para vinificar os nossos rótulos, elaborados a partir de vinhedos próprios devidamente cuidados na Campanha Gaúcha (15ha), onde elaboramos tintos e brancos, e na Serra Gaúcha (10ha), de onde saem os nossos espumantes.

Só temos vinhos finos. Estamos há pouco mais de um ano em busca de clientes. Já conquistamos muitos, todavia, encontramos fortes barreiras. Apesar de não haver restrições oficiais e legais no mercado nacional, entrar na carta de um restaurante é tarefa difícil. No nosso “mercado livre”, muitas cartas são controladas por poucos importadores ou distribuidores de vinhos, que incluem rótulos exclusivamente de seus clientes – a imensa maioria importados. Até algumas grandes vinícolas nacionais restringem a entrada de vinhos brasileiros nas cartas de restaurantes, garantindo uma fatia cativa na sempre ínfima parte dos rótulos daqui.

Entre lojas e distribuidoras, a prática do oligopólio é equivalente, com honrosas e poucas exceções. Entre as centenas de importadoras existentes no Brasil, há duas ou três empresas que trabalham com vinícolas brasileiras. Mesmo assim, quando trabalham, é com apenas algumas! Acredito que caiba a pergunta: vivemos um livre mercado para quem? Certamente não para os rótulos verde-amarelos, que geram emprego no campo e movimentam a economia local, tanto quanto os importados fazem, registre-se.

A maioria dos vinhos no Brasil – cerca de 80% – é comercializada por um número de redes de supermercados que podem ser contados nos dedos de uma mão. Um consumidor do centro, sudeste, nordeste e norte do país não tem acesso a uma série de grandes vinhos elaborados no Brasil. Nós, assim como dezenas de outros pequenos produtores de vinhos finos, sofremos sérias restrições de acesso ao mercado há tempos. Agora, com o boicote, isso só ficou escancarado. Por isso precisamos de proteção para garantir o acesso aos nossos vinhos, mais que qualquer grande vinícola.

No final do século 19, uma praga, a filoxera, devastou os vinhedos europeus. Para suprir a demanda interna, vinhos de outros países, especialmente do norte da África invadiram os mercados, suprindo a demanda interna. Na França, por exemplo, tornou-se praticamente inviável o cultivo de uvas finas e a elaboração de vinhos finos, em função da concorrência desleal de produtos mais baratos.

Para proteger a sua produção nacional de vinhos finos, a França adotou uma série de medidas, dentre elas a imposição de uma legislação restrita à rotulagem de vinhos nacionais e estrangeiros e a limitação de importações de vinhos. Vendo a sua cultura em risco, os franceses protegeram os seus produtores. Será que os franceses erraram ao abrir mão do liberalismo econômico temporariamente para proteger os seus produtores e a sua cultura?

O dilema brasileiro atual não é diferente daquele enfrentado pelos europeus no início do século passado: continuar sendo um país produtor de vinhos finos e dar continuidade ao desenvolvimento de uma cultura do vinho própria e original, ou ser um país meramente importador. Mais que um direito, é um dever não deixar que a cultura brasileira do vinho pereça. Um elemento cultural da identidade brasileira está em risco de extinção. Isso é um fato. Não se engane com quem diz o contrário. Não aceite manipulações dos números e das estatísticas. Certamente quem duvida disso está a serviço de quem quer eliminar a produção de vinho fino brasileiro, das grandes, médias e pequenas vinícolas nacionais.

O vinho faz parte da cultura brasileira tanto quanto a cachaça ou a cerveja. Há mais de um século a produção brasileira é sólida e expressa uma cultura rica, que não pode ser perdida. Todos os anos, só o Vale dos Vinhedos, a principal região produtora de vinhos finos do país, recebe mais de 200 mil visitantes. Entretanto, a desigualdade de condições na competição entre vinhos brasileiros e estrangeiros é gigantesca e em boa parte é devida à conjuntura internacional. A sobrevalorização do Real, a falta de isonomia tributária e os enormes incentivos dados a vinhos espanhois, franceses e italianos, por exemplo, não permitem a concorrência leal com o setor vitivinícola nacional.

A Dunamis é contra o boicote a qualquer produto brasileiro. Estamos unidos em defesa da cultura do vinho. Precisamos que o Brasil exerça a sua soberania. Seguindo as palavras do pai do liberalismo moderno, John Locke, quando diz que “cada um está obrigado a preservar-se”, cumprimos o nosso dever de exigir que o Brasil defenda a sua cultura do vinho. Seja por meio de salvaguarda (uma medida legal dos pontos de vista nacional e internacional, democrática e temporária) ou qualquer outro mecanismo. É certo que as coisas não podem ficar como estão. Ou seremos acusados pelas futuras gerações de não termos atuado em legítima defesa.

Não somos o mesmo brasileiro descrito por Nelson Rodrigues como “um narciso às avessas, que cospe na própria imagem”. Nós gostamos do Brasil, de nossa cultura e de nossos vinhos. Convidamos a todas as brasileiras e todos os brasileiros a experimentarem os vinhos do Brasil e a valorizarem o que é nosso. Exigimos o fim do complexo de vira-lata. Ergue a taça, Brasil!

Júlio César Kunz | Diretor-executivo da Dunamis Vinhos e Vinhedos. Engenheiro de alimentos pela UFRGS e mestre em gestão e marketing do setor vitivinícola pela Universidade Paris-Ouest (Nanterre – La Défense).”


Mais uma vez pelo ao bom senso e elegância, e vamos juntos lutar pela produção de mais e melhores vinhos Brasileiros, mas sem que tenhamos impedida nossa prerrogativa de escolha.
Até o próximo brinde!
Álvaro Cézar Galvão

2 comentários:

Julio Kunz disse...

Caro Álvaro!
Novamente, muito obrigado pelo espaço que nos concedes.
É muito bom poder discutir em alto nível com pessoas como você.
Grande abraço,
Júlio Kunz

Álvaro Cézar Galvão disse...

Assim deveria ser sempre Julio
Abraços de luz