segunda-feira, 20 de junho de 2011

O dia em que a uva Sangiovese domou os feijões da dobradinha



Meninas e meninos,
Quando me prontifiquei a fazer parte da confraria Taninos no Tucupi, foi para quebrarmos tabus e paradigmas estabelecidos.
Nossa confraria, somente com pratos típicos da gastronomia Brasileira, tem a finalidade de formar idéias e noções enogastronômicas, com nossos temperos, nossas iguarias e sabores, que quase nunca estão contempladas em compêndios sobre as harmonizações.
Claro, com nossa colonização européia, sobretudo a Portuguesa, temos muito em comum nas nossas cozinhas, mas, devemos observar os regionalismos e práticas gastronômicas particulares de nosso imenso território, tanto em extensão, como em diversidade.
Na última e divertida incursão, sempre com a gastronomia aos cuidados de nossa amiga e mestra Mara Salles, do Tordesilhas, sempre acompanhados de perto, aliás, um dos confrades, o Ivo Ribeiro, tivemos à mesa a famosa dobradinha, chamada em Portugal de Dobrada à Moda do Porto, nome que tem uma história heróica e comovente, pois o povo começou a comer só as tripas, deixando as carnes para os soldados que lutavam na batalha pela conquista de Ceuta.
Depois ficou sendo só o bucho dos animais, especialmente dos bovinos.
Na tradicional dobradinha Brasileira, costuma-se acrescentar feijão branco, costelinha de porco salgada, linguiça e cenoura, além do bucho, e é acompanhada de arroz branco.
Pois fomos à luta, e garanto, que mesmo aqueles que diziam não comer a tal da dobradinha, “lamberam os beiços”, como se diz na linguagem coloquial, e até mesmo, programaram, e já cumpriram, outra incursão ao Tordesilhas, para sem a necessidade de harmonizar com vinhos, se fartarem com a iguaria.
Para abreviar, pois estas degustações são sempre motivo de vários posts, vou dizer sobre a minha impressão, e que foi confirmada: Gosto de feijão é com vinhos tintos.
Já harmonizei com vinhos brancos, mas os prefiro rubros, e com taninos domados, boa dose de acidez, e com álcool comportado.
Juntando a dobradinha, pensei na mesma linha, só acrescentei ao vinho mais um quesito, o de que não fosse por demais alcoólico, e tivesse seu frutado bem equilibrado.
Levei um Brunello Di Montalcino Camigliano 1996, 13% de álcool, vinho com idade para ter seus taninos bem domados, e a uva, a Sangiovese Grosso, ou Brunello, ainda com bastante acidez para encarar a textura da dobradinha, e do feijão.
Bem, digo que foi um espetáculo a junção dos dois, tivemos aquela matemática onde 1+1= 3, ou seja, a soma, o produto final é maior do que os fatores isolados.
Outro vinho que agradou, aliás, foi o vencedor com diferença mínima de pontos, e que também foi uma grata surpresa, um Português o Vale da Mina 2006, com Castelão, Tricadeira e Aragonês, levado pelo amigo Everaldo Santos do Dona Veridiana.
Até o próximo brinde!

Álvaro Cézar Galvão

2 comentários:

Ricardo Brito disse...

Parabéns pela harmonização diferente é isso que falta para que o vinho se torne uma bebida do cotidiano do brasileiro, harmonizá-lo com os pratos do dia-dia.
Abraço
Ricardo Brito.

Álvaro Cézar Galvão disse...

Ricardo, fico feliz por compartilhar do mesmo pensamento que eu e de alguns outros, poucos é verdade, mas em crescente número, sobre a responsabilidade que temos em desmistificar os vinhos, sobretudo com nossas gastronomias mais regionais.
Querendo saber mais, ou trocar experiências me avise.
Abraços de luz
Álvaro Cézar Galvão