sábado, 22 de maio de 2010

HARMONIZAÇÃO-Harmonizar, congraçar.


Meninas e meninos,
Escrever sobre as sensações que temos não é fácil, pois as temos muito próprias, quase individualizadas, e passá-las para os outros requer jogo de cintura, aliás, com estes anos na enogastronomia, minha cintura só aumentou, e hoje tenho jogo de cinturas...
HARMONIZAÇÃO-Harmonizar, tornar harmônico, conciliar, congraçar.
Esta definição serve para o que fazemos em enogastronomia também, mas todo o conjunto deve ser e estar harmônico.Que conjunto? Bem, as pessoas que estão à mesa, por exemplo, para esta experiência, a gastronomia, o vinho, enfim, já pensou em harmonia quando o ambiente com as pessoas, ou outros fatores estão irremediavelmente descontrolados?
Fácil harmonizar um vinho com a gastronomia, independente de não serem as mais adequadas, quando as pessoas estão harmônicas, pense num casal de namorados, quando o enlevo do amor, os leva à uma praia deserta com um belo espumante e com um sanduíche de mortadela, o que acontece? Está tudo bem, há harmonia por causa dos fatores subjetivos. Agora nesta mesma praia, os mesmos sanduíche e espumante, e o casal acabou de ter uma briga daquelas.......
Isto posto, tivemos eu, e alguns amigos dos bons, aqueles que estão conosco nas experiências mais difíceis, pois as fáceis, já se encontram descritas, uma aventura, que esperamos seja a primeira de muitas.
A linda Cris Couto, faz uns dias, tomou a iniciativa, que claro, só podia partir de uma menina, além do que, estudiosa da gastronomia, de fazermos algo mais dirigido para o fora do convencional, inédito, e convidou o Agilson Gavioli, que escreve no site Academia do Vinho; o Beto Duarte do Papo de Vinho; o Jeriel diretor da SBAV; o João Filipe do Falando de Vinho; o Walter Tommasi editor da Revista Free Time e eu, para em companhia do Ivo Ribeiro do Restaurante Tordesilhas, harmonizarmos os vinhos, de preferência Brasileiros, com a gastronomia típica do litoral Paranaense, mais especificamente de Morretes, o famoso BARREADO.
Prato demorado, de origens ancestrais, que leva de 12 a 24 horas em fogo muito lento (o original é enterrado, com a panela tampada e vedada com barro) hoje, devido à impossibilidade de espaços, a tampa é fechada com uma mistura de farinha, que acaba virando um “cimentinto”com a ação do fogo e feita em cima de chapas de ferro para a ação indireta do fogo e difusão da caloria. É um cozido, onde a carne e muitos temperos, que após a ação do fogo se desmancham e concentram seus sucos próprios. Come-se com farinha de mandioca e banana da terra.
Harmonização para livro nenhum, botar defeito certo? Aliás, livro nenhum tem esta e outras tantas harmonizações, pois todas as já descritas tendem para os pratos da gastronomia do velho mundo, onde o vinho desde sempre acompanha a comida e é considerado alimento.
Quem faz o Barreado no Tordesilhas? A eficiente e linda Chef Mara Sales, precisa mais?
Levamos:
O Agilson: um Barbera d’Asti 2006 do Michele Chiarlo.-Piemonte Itália- ele não sabia da preferência por Brasileiros.
A Cris: um Merlot Reserva 2005 Pizzato-Serra Gaúcha
O Jeriel: um Don Laurindo Estilo -corte de Cab Sauvig; Merlot e Tannat-Serra Gaúcha.
O João Filipe: um Villagio Grando Além Mar Cab Sauv –Santa Catarina, ainda não engarrafado e um Muros de Melgaço Alvarinho-Portugal, só para tirar uma dúvida.
O Beto Duarte: um Pinot Noir Dádivas Lídio Carraro-Encruzilhada
O Walter Tommasi: um Pazzo de Podal Albariño 2004-Espanha-ele estava viajando e na correria....
O Ivo: um Vallontano Tannat-Serra Gaúcha e um Terranoble Pinot Noir-Chile-também para tirar uma dúvida.
Eu: um Domínio Vicari Riesling Itálico 2008-Praia do Rosa-Santa Catarina
O Jeriel também apareceu com um espumante da Vinícola Aurora o Brazilian Soul Demi-Sec, para “preparar” a boca, e o Ivo um Utopia Glamour Chardonnay da Quinta de Santa Maria- São Joaquim-Santa Catarina.
Todos a seus postos, começamos a batalha!
O Ivo serviu como entrada uns pasteizinhos de carne e queijo, onde tivemos a primeira constatação: o Utopia Chardonnay saiu-se muito bem com os de carne, pois a fritura, a massa e o recheio, davam estrutura para o vinho, sem madeira e sem malolática(fermentação que transforma o ácido málico, indesejável, em lácteo).
Fomos dos tintos aos brancos, dos brancos aos tintos, sem preocupação de qualquer natureza, pois o que nos interessava era descobrirmos a melhor harmonia com o Barreado.
Claro que o João, o Tommasi e eu, acreditávamos nos brancos, pois os levamos, contra todos os argumentos de ordem enogastronomica, o que vem provar que estas regras são mutáveis, como o são os vinhos, com somos nós, e como o é a gastronomia ao longo dos tempos.
Os vinhos estavam todos ótimos, quando degustados em vôo solo, mas a conclusão que o grupo chegou por consenso de anotações, foi que o que mais se harmonizou com a gastronomia proposta foi o vinho verde.
Seguem os três primeiros, só para não ficar cansativo, pois cada um dos participantes com certeza ao seu modo, fará matéria sobre o evento.
1º Muros de Melgaço Alvarinho-Vinho Verde Português, que pela sua pungência e frescor, com acidez pronunciada, suportou bem a farinha, que, diga-se de passagem, não era torrada, pois ai sim, quem sabe, tivéssemos um complicador para este vinho.
Também foi um dos poucos que levou bem o cominho, tempero que se sobressai no prato.
2º Terranoble Pinot Noir, uva menos encorpada que os Cabernet e Merlot propostos, mas por ser Chileno, vigoroso e estruturado.
3ºAlém Mar Cab Sauvignon.
Conclusão, que para mim é óbvia e na qual tenho falado bastante: Regra para harmonização é não seguir regra muito rígida, seguir sim parâmetros, mas o que vale é a litragem de cada degustador, e a ousadia, que nos alfarrábios, não as há!
Sabem aonde está a linda Cris? Por trás da câmera nesta foto.

Cris Couto http://sejabemvinho.blogspot.com
Agilson Gavioli http://www.academiadovinho.com.br/
Beto Duarte http://papodevinho.blogspot.com/
Jeriel http://www.blogdojeriel.com.br/
João Filipe http://falandodevinhos.wordpress.com/
Walter Tommasi http://www.freetimemagazine.com.br/
Tordesilhas http://www.tordesilhas.com.br/
De gustibus non disputandum est (gosto não se discute)...
Até o próximo brinde!


Álvaro Cézar Galvão

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